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terça-feira, 9 de dezembro de 2008

Santa Catarina vive tempo de recomeçar


Estado está diante de mais uma chance de comprovar sua capacidade de superar obstáculos
A costureira Isabel Will, 40 anos, correu para o quarto dos dois filhos e ordenou que todos saíssem de casa. Halisson Will, 14 anos, lembra que a mãe abriu a porta muito nervosa. O garoto começava a correr, mas caiu de susto quando os vidros da janela estouraram.
Eles não sabiam o que acontecia. Isabel estava acordada às 3h45min de 22 de novembro quando ouviu um chiado. Parecia vazamento de gás, mas mil vezes mais forte. Em seguida, as janelas do quarto foram rompidas por barro e pedras. Depois de 10 minutos começou o fogo. As labaredas alcançaram 50 metros. Fazia tanto calor que era impossível ficar do outro lado da rua. A claridade do fogo era tamanha que parecia dia.
Era o rompimento do gasoduto, no quilômetro 41 da BR-470, em Gaspar, no Vale do Itajaí, Santa Catarina. O local onde passava a tubulação era plano, e o acidente criou uma subida íngreme para cada lado.
O vento empurrou as chamas para cima da casa de Isabel. O relógio da cozinha parou quando o forro queimou, às 4h14min. A família da costureira se tornou uma exceção na tragédia que atingiu Santa Catarina. Não foi vítima de água ou lama, mas do rompimento de uma tubulação que passava a cerca de 20 metros dos fundos de sua casa.
Sem ter onde morar, Isabel e os filhos foram abrigados em motel de beira de estrada perto da casa destruída. Histórias como a dela repetiram-se outras vezes, em municípios diferentes, onde muitas pessoas perderam familiares, amigos e vizinhos durante a enxurrada. Até a noite de sexta-feira estavam contabilizadas 120 mortes, mas há pelo menos 30 desaparecidos, acredita a Defesa Civil do Estado.
Ao mesmo tempo que aumentava o número de vítimas e perdas ao longo das últimas duas semanas, multiplicavam-se com a mesma rapidez os atos de solidariedade, vindos de todos os cantos do Brasil e até do Exterior.
Isabel e sua família acreditam que agora chegou a hora de reconstruir. De erguer a cabeça, arregaçar as mangas e olhar para o futuro. A palavra “recomeçar” faz parte do vocabulário de todos – população, prefeitos, empresários, comerciantes e até mesmo de quem perdeu tudo e não tem nem para onde ir.
Um misto de coragem, determinação e fé no futuro move milhares de catarinenses. E exemplos desse povo, que insiste em responder com trabalho à fúria da natureza, não faltam:
– Abatidos, sim. Derrotados, jamais! – ensina Casemiro Michalach, 56 anos.
Ele já tirou a lama da casa, no Distrito do Garcia, na região sul de Blumenau, e reabriu a serralheria que fica ao lado da residência e de onde tira o sustento da família.
– Em vez de cruzar os braços e lamentar, as pessoas devem arregaçar as mangas e trabalhar mais. Se antes eu passava oito horas na oficina, agora ficarei 10, 12 horas até recuperar tudo o que perdi – comenta.
Também em Blumenau, o pipoqueiro Marcos Amorim lamenta a destruição total da casa de alvenaria que ele próprio construiu, com a ajuda da mulher Cleusa. Era tudo o que ele deixaria para os dois filhos. Porém, ao mesmo tempo em que enxuga uma lágrima, confessa:
– Apesar de tudo, agradeço a Deus todos os dias por não ter me tirado o mais importante: minha mulher e os filhos. O resto, a gente constrói novamente. Braço forte não me falta – anuncia, orgulhoso de sua força de vontade.
A artesã Vanessa Benevenutti, 22 anos, tem uma prova da violência da enxurrada na frente de casa na Rua Araranguá, também no Garcia: um buraco capaz de engolir cinco pessoas. Mas não se abate, e diz que o trabalho será antídoto contra as perdas.
Mais do que recuperar as casas e ruas destruídas pela enxurrada, os catarinenses precisam, neste momento, reconstruir suas vidas. E este é o maior desafio da população: retomar, tanto quanto possível, a normalidade. Um dos exemplos é a própria prefeitura de Blumenau, que já exibe sua tradicional decoração de Natal.
Não é tarefa fácil, tal a intensidade dos prejuízos. Porém, se é a grandeza de uma tarefa que lhe empresta nobreza, Santa Catarina está diante de mais uma chance de comprovar sua capacidade de superar obstáculos.
Neste momento, o Grupo RBS lança, com o objetivo de destacar a força, o esforço pela recuperação e as conquistas do Estado nas mais diferentes áreas, a campanha Brilha, Santa Catarina. Afinal, começa agora um novo tempo para o Estado
Fonte: Diário Catarinense

Um comentário:

ninguém disse...

Miguel. Admirável esta força do pessoal e, apesar do motivo, que é tão triste, me orgulhei do Brasil que se uniu para ajudar Santa Catarina. Há tempos não via tanta mobilização. Estas feridas vao fechar, demora mas fecham. A capacidade de trabalho do catarinense é fantástica. Agora cabe às ditas autoridades fazer um projeto definitivo sobre habitação em encostas, contenção de morros, estudo de solos, orientação a moradores e tudo isso. Ou vai ser sempre culpa da natureza, né?
abração